terça-feira, 24 de julho de 2007

rapadura é doce mas não é mole não

E posso dizer o mesmo da maternidade, esse estado de vida em que a gente deixa de viver para si e passa a viver para outro. Integralmente. Incondicionalmente.
É doce sim, é bom ver seu filhote crescendo, saudável, dando seus primeiros sorrisos, tomando (e gostando!!) banho, fazendo xixi de surpresa quando você tira a fralda. É uma delícia ver sua cria procurando você quando escuta sua voz, tentando, igual um bichinho, achar o seu peito na hora de mamar, prestando atenção quando você fala um monte de coisas sem sentido e com voz de conversar-com-filho-recém-nascido, aquela vozinha de idiota que você faz totalmente sem vergonha e que jamais faria, principalmente em público, se não fosse por ele.
Isso tudo e o amor que você se descobre capaz de sentir dão um colorido, um sentido à vida completamente diferentes do que você achava possível. Dão esse sabor doce, inexplicável e que, sinto muito, só dá pra saber quem é mãe. Eu nunca nem imaginei que pudesse ser assim.
Mas a intensidade de todo esse momento vem acompanhada da fadiga absurda e inclemente das noites e noites de sono privado e do estado de alerta que acompanha a maternidade. Esse estado que faz com que você durma mesmo ao lado de um estouro de uma manada de elefantes e que te faz pular da cama ao primeiro sinal de chorinho do seu bebê.
A falta de uma noite de sono minimamente bem dormida é, de longe, o principal fator de fadiga. Sejam pelas horas de amamentação ou seja pela preocupação em saber se seu filho está bem e, principalmente, vivo! no berço, esses hiatos de sono fazem a gente ficar num estado meio intermediário entre sonho e realidade. Ao ponto de sonhar, em alguns segundos, que você já levantou e deu de mamar e de repente acordar e vê que não, tadinho, seu filhote ainda não foi devidamente alimentado. Eu passei a ter um medo enorme de dormir enquanto estou amamentando. O que é totalmente possível de acontecer. Assim desenvolvi um método com almofadas que deixa Lucas protegido, não dependendo exclusivamente dos meus braços para ser segurado.
Não é mole não. Não é mole não saber o significado daquele choro que você tá ouvindo, não é mole não ter muito o que fazer quando ele está com cólica e gritando (graças a Deus isso só aconteceu duas - curtas - vezes), não saber se o umbigo era pra estar realmente daquela cor, pensar o que você fez de errado para o bumbum estar vermelho e assadinho. Não é mole passar horas sozinha de madrugada, tentando entender porque diabos ele simplesmente não dorme. Não é mole dar de mamar durante 45 minutos e 1 hora depois ouvir ele chorando querendo mais. Será que seu leite é suficientemente forte para sustentar seu filhote? Será que ele está passando fome? Será que você está sendo uma irresponsável em dar um pouco do suplemento que os médicos indicaram no hospital?
Enfim, alia-se a isso tudo a insegurança em ver seu corpo completamente mudado, diferente do estado "grávido" e do estado anterior à gravidez. Peitos do tamanho de estádios de futebol, quadris alargados, vários quilos a mais, olheiras que vão na bochecha. Um humor bastante instável, intolerância com problemas idiotas do dia-a-dia e, no caso dessa carioca que vos fala, uma saudade imensa do Rio, dos amigos e, principalmente, da família. E será que seu marido ainda te ama? Mesmo quando você mesma já não tem tanta certeza assim se se ama?
Bem, a vida é assim mesmo, com altos e baixos, prós e contras, tristezas e felicidades. Ao menos, por experiência própria, sei que se você for paciente pra esperar e deixar um pedacinho de rapadura na boca, ela derrete, pouco a pouco, e você pode usufruir das delícias da cana. É só dar tempo ao tempo. É só esperar!

3 comentários:

Unknown disse...

Deborah, lindo texto! Pois é, você pegou bem o espírito da coisa! Mesmo!
Quanto às dúvidas, se é que vale alguma coisa, aí vai meu conselho: NÂO dê, de modo algum, qualquer suplemento. Nos primeiros 6 meses o neném não precisa de nada além do teu leite, nem de água. E se você começar a dar suplemento, ele vai acabar parando de mamar, o que é a maior pena. O leite é produzido de acordo com a quantidade de mamadas, e simplesmente NÂO EXISTE leite fraco. Pode pesquisar com associações sérias, e você vai ver.
Se o Lucas precisar de mais alimento, ele simplesmente irá mamar mais, e você passará a produzir mais. É simples assim!
beijão
laura
PS: Ele é fofo! A cara de vocês dois!

Anônimo disse...

Epa, desculpe, sou eu, Laura. É que estava com a ID do Gui... sou uma pateta!

Unknown disse...

Amei o texto Deborah! Quanta criatividade. Adoro le-los. Saudades e acredito que te farei uma visitinha em torno de umas 2 semanas. Mas eu te ligo ta bom?
Beijao pra vcs 3.
Gislayne