quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

temperatura máxima... ou mínima

Quem acompanha o blog dos Dois Cariocas, sabe que temos um alarme de incêndio muito eficiente aqui em casa. Um alarme meio temperamental, é verdade, que não gosta de cheiro de pão muito torrado e de farelos queimando no fogão. Alarme que dispara com forninhos e ovos fritos. Enfim, um alarme muito sério e que é digno de respeito.
Pois bem, na madrugada do último dia 4 de janeiro, iniciozinho de sexta-feira, estávamos nós felizes e contentes, dormindo profundamente (essa é uma hora completamente sagrada pra mim desde que Lucas nasceu, a hora em que estou dormindo), sonhando, embolados com Morfeu quando um barulho ensurdecedor começou a soar dentro do quarto. Isso tudo com uma luz branca, feito um flash de máquina fotográfica, piscando. Imediatamente Lucas começou a chorar, ou melhor, a gritar. Pulamos da cama num estalo. Eu peguei Lucas do berço, tampei os ouvidinhos dele e fui procurar onde estava a torrada queimada, ou o ovo frito, ou que raio de forninho estava ligado. Pra minha surpresa, não, não tinha nada ligado dentro do apartamento. Não era nada que tivéssemos feito. Mais uma descarga de adrenalina me atravessou e caiu a ficha: "porra, é o alarme de incêndio de verdade!!" E uma certeza se fez clara, tínhamos que sair do apartamento o mais rápido possível, pois o prédio estava pegando fogo e, enquanto estivéssemos dentro de casa, corríamos perigo. E o pior dos piores, MEU FILHO corria perigo.
Lucas a essa hora já não chorava mais e só olhava, entre surpreso, admirado e divertido, fofoqueiro e curioso que ele é. Com certeza queria entender porque papai e mamãe corriam tanto gritando de um lado pra outro. É impressionante como esse alarme tem um efeito devastador, deixando a gente numa pilha tão grande que fica difícil pensar, fazendo a gente querer só sair correndo. Assim Tomzinho pegou as flautas dele, eu peguei os nossos passaportes (incrivelmente isso é o que mais me preocupa), a mochila do Lucas e fui dar uma conferida rápida na temperatura lá fora: incríveis 10 graus Celsius NEGATIVOS. Isso mesmo, -10ºC!! Eram 4:30 da manhã, tínhamos uma temperatura de 10 graus abaixo de zero, um bebê de 6 meses nos braços e um alarme contra incêndio enlouquecido em nossos ouvidos! Desesperador, não?
Enfim, coloquei um casaco-do-estilo-edredon-ambulante, luvas, gorro, cachecol de lã, botas de camurça, enfiei o que deu no Lucas, enrolei o pobrezinho em cobertores e lá fomos correndo pro carro. Assim que saí de casa o frio bateu no rosto como um tapa ardido. Dentro do carro, o banco parecia que estava molhado com gelo derretido. Uma beleza para um tratamento criogênico contra celulites. Meu filhote, que geralmente odeia colocar aquele monte de roupas pra frio que eu sempre tento enfiar, era um anjo de candura embaixo de tantas camadas quantas me foram possíveis colocar nele. E enquanto eu chorava de nervoso e disparava impropérios e palavrões contra aquilo tudo, Tomzinho, polianamente, tentava me acalmar dizendo que ainda bem que tínhamos aquele alarme, que nossa vida estava segura, que nosso filhinho estava salvo, etc. etc. etc.
Finalmente saímos da garagem (depois de esperar alguns carros manobrarem e sairem também) e eu, que já estava intrigada, fiquei mais intrigada ainda: cadê o cheiro de fumaça e queimado? aliás, cadê a fumaça?? Comecei a desconfiar que tudo não tinha passado de mais um alarme falso, mas ao chegar do lado de fora vimos não um, mas dois caminhões dos bombeiros. Parecia caso sério. Esperamos estacionados, motor do carro e aquecimento ligados. Tomzinho saiu pra fofocar e descobriu que realmente não tinha nenhum incêndio e que o problema tinha sido um vazamento de água em uma tubulação qualquer ligada aos sprinklers, aquelas coisinhas que ficam penduradas no teto pra justamente apagar qualquer fogo inadvertido e inoportuno.
Fomos liberados pra voltar pra casa pelos rapazes do corpo de bombeiros. E, ao contrário do que eu imaginei e poderia supor, não ouvi nenhuma palavra de revolta ou de descontentamento dita por nenhum dos outros moradores, igualmente tirados da cama às 4:30 da manhã com frio de -10ºC. Ninguém reclamando. Na terra onde todo mundo processa todo mundo, ninguém falou nem uma vezinha que deveríamos processar o condomínio, ou a empresa que mantém o sistema de alarmes. Nada, nada. E, conversando com Tomzinho (que se tem alma carioca, nasceu e cresceu aqui na Gringolândia, sendo sempre minha fonte fidedigna de informações preciosas) entendi que todos se sentiam muito bem por saber que o alarme podia acordá-los no meio da madruga. Se sentiam muito seguros porque, imagina, se o alarme disparou com água, imagina o que faria se fôsse fogo de verdade!!
E assim, todos sabem que não terão problemas com velas acesas ou torneiras abertas. Não seremos queimados e muito menos afogados. Boa medida também para economizar água nesses dias de seca aqui em Durham. Você dá descarga e o alarme de incêndio/vazamento-de-água dispara e todo mundo fica sabendo que você está disperdiçando água na hora de dar uma cagada. Muito prático mesmo. E over, como tudo nesse país de superlativos, de carros enormes, cafés em baldes, indenizações milionárias. Uma madrugada, digamos assim, cinematográfica.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

a moca do tempo

Faz tempo que eu nao escrevo. Faz tempo, inclusive, que nao passo por aqui pra dar uma misera espiadinha. Mas tenho la as minhas razoes e desculpas. Nao eh nada facil cuidar de um pequeno rapaz que mama, chora, ri, faz coco (com acento, por favor!), acorda de madrugada, faz manha, quer brincar, baba, quer papar... E isso tudo so com a pequena (e luxuosa) ajuda que meu marido pode me dar no curto espaco de tempo em que esta disponivel em casa. Adicione a isso tudo um novo (novo pra mim, claro) fator que estou descobrindo aqui na Gringolandia: o frio do inverno.
Claro que quando eu falo "frio" nao estou nem chegando perto do frio possivel (e inimaginavel) de lugares como Canada, Islandia, Groenlandia... mas, para uma carioca da gema, acostumada a "rigorosos invernos cariocas" onde a minima nao chega a 13 graus Celsius, falar do inverno daqui de Durham e de temperaturas que variam de 10 a -10 graus eh o mesmo que falar da era Glacial!! Assim sendo, estou, mais uma vez, me adaptando a nova vida. Aprendendo novas formas de viver, aprendendo o que fazer e, principalmente, o que NAO fazer. Ontem, por exemplo, aprendi que quando a temperatura esta abaixo de zero grau (pra ser mais precisa, -1 na ocasiao), mesmo que voce va na lixeira, bem rapidinho, tipo 10 minutinhos, se for ao ar livre NAO va sem luvas. Eu achei que so o casaco, o gorro, as botas e o cachecol seriam suficientes. Mas aqui, nesse complexo de apartamentos meio absurdo, onde a lixeira eh tao longe de casa que a gente tem que ir de carro, acabei por demorar mais do que o recomendavel (e suportavel) e de repente comecei a sentir meus dedos arderem, e ficarem dormentes, e meio duros... Cheguei em casa correndo, com as maos vermelhas e meio sem sensibilidade. Falei pro Tomzinho: "nao consigo sentir meus dedos!!", e ele (rindo, claro): "ahh!! agora sim voce sabe o que eh frio. Nao eh aquela babaquice de fresquinho nao. Eu te disse, frio eh quando voce nao sente mais os dedos se eles estiverem expostos. Frio doi. Parabens!!" E assim fui "batizada" com maos ardidas e mais uma nocao de que frio de verdade eh foda.
Claro que para uma pessoa com grandes tendencias a comportamentos obsessivos compulsivos, tanta novidade eh um prato cheio para desenvolver novas neuroses. Ou pintar as neuroses antigas com novas cores. E comigo nao seria, claro, diferente. Estou, digamos, obcecada, pelas condicoes climaticas, pela temperatura, pela quantidade de umidade... enfim, por tudo relacionado ao clima. Meu site predileto passou a ser o Wunderground, um site de meteorologia que eh um espetaculo. Te da previsao do tempo, temperatura atual, historico dos dias, meses e anos, maxima e minima temperatura do dia, recordes, etc. Estou sempre em dia com o que Sao Pedro anda aprontando na atmosfera. E assim, posso me programar e saber o que usar e o que colocar no meu pimpolho. Isso, claro, eh um capitulo a parte. Eu nunca sei, ou sabia, o que vestir nele direito. Acabei aprendendo que tudo eh uma questao de "camadas". Quantas camadas de roupa voce esta usando e quantas voce vai colocar na sua cria. A regra eh simples: sempre coloque uma camada a mais no no seu filho. Mas isso funciona bem para quem ja esta acostumado com o frio. Para uma carioca, ligeiramente friorenta e que esta sempre com medo de ser pega desprevenida com temperaturas abaixo de zero, o risco de super-aquecer meu filhote eh sempre alto. Por varias vezes peguei Lucas suando, mesmo sob temperaturas polares... mas estou trabalhando com afinco nisso, e acho que ja estou conseguindo mante-lo aquecido sem, contudo, cozinhar o pobrezinho.
E assim, com temperaturas baixas, luvas e cachecois a postos, resolvi que era hora de ver neve, ora pois pois. Afinal de contas eu ja to sofrendo mesmo. Ja tenho que me preparar toda pra sair, ir ao mercado, ir na caixa de correio! Que seja, entao, com neve, essa super novidade para a carioca que vos fala. Pra quem tem acompanhado o blog desde o inicio, deve lembrar como me deparei pela primeira vez, la na primavera em New Jersey, com aquele monte de neve pretinha e suja (no post "Sujo como a neve"). Claro que essa neve nao valeu. O que eu quero agora eh aquela neve branquinha, caindo em flocos brilhantes. Aquela neve de filme, sabe? Pois bem, com meu novo, digamos, hobby de acompanhar e monitorar toda a previsao do tempo, descobri que as condicoes climaticas eram propicias para a neve no ultimo dia 2, quarta-feira, e que provavelmente teriamos alguma. Confesso, nao sem alguma vergonha, que fiquei ansiosa como o que. Emocionada mesmo. Primeira neve aqui em Durham desde que cheguei!! Primeira neve do Lucas!! Primeira neve de verdade que eu veria!!
Enfim, nevou. Eu vi floquinhos de neve caindo do ceu. Fiquei com os olhos umidos de alegria e emocao e acompanhei, minuto a minuto a evolucao da paisagem. Me encasaquei e fui pra porta de casa soh para sentir pela primeira vez os flocos de neve batendo no rosto. Mal eu podia esperar pra ver as ruas branquinhas, os telhados cobertos de neve. Mal eu podia esperar para caminhar afundando meus pes na neve fofa e fresca, para fazer bonecos de neve com meu maridinho e meu pimpolho. Enquanto eu tinha esses devaneios, a neve pluft!, simplesmente parou de cair. Sem aviso nenhum, parou de nevar. Depois de, no maximo, 15 minutos de miseros e quase invisiveis floquinhos caindo do ceu simplesmente parou de nevar. Assim. E foi assim que ficou a minha cara, totalmente incredula e decepcionada, "Po, ja acabou??". Pois eh, acabou. Meu segundo contato com a neve aqui na Gringolandia foi mais um fiasco. E das temperaturas abaixo de zero que tem rolado por aqui, soh sobrou o laguinho do chafariz congelado no jardim. Que foi ate legal de ver, um laguinho (ta bem, ta bem, um tanquinho) todo congelado. Que ja descongelou, claro. As temperaturas subiram e eh quase dificil acreditar que estamos no inverno da Gringolandia. Enfim, pensando bem, Gracas a Deus. Assim me sinto bem mais perto do Rio e do fingido (e delicioso) inverno carioca.