sexta-feira, 30 de março de 2007

o elefante e a formiguinha

Tenho visto muitos carros grandes, imponentes, caminhonetes abusadas. Tom hoje me mostrou um que adorei, o Hummer, um carro enorme, com jeitao de carro militar, de tanque de guerra. A sensacao eh de que eh indestrutivel. Meus olhos, como boa latino-americana amante de dirigir, brilharam. Meu delicado marido, percebendo meu impulso de cobica e consumo, imediatamente tentou tirar meu cavalinho da chuva: "pode esquecer! nos nunca vamos ter um carro desses! o maior carro que nos vamos comprar algum dia eh esse aqui mesmo! eu nao preciso de um carro desse tamanho!"
Decepcionada, passei por um brevissimo momento de meditacao. E na hora percebi qual eram as nossas diferencas e o porque da minha atracao irresistivel pelos carros enormes e altos. Eu nao tenho um, digamos, pau. De alguma forma estou na categoria da formiguinha que foi pra Wall Street, ganhou dinheiro e comprou uma Cherokee. Preciso, ainda, de um simbolo de poder, de status.
Finalmente, a deducao acaba sendo meio que inevitavel. Se vemos tantos carros enormes, se tantos americanos tem a mesma atracao que eu pelas enormes caminhonetes...

primavera...?!?!

Estamos na primavera aqui, e a temperatura hoje de manha, quando saimos pra tomar um cafe na rua era de -1 graus celsius... Pensar no inverno me apavora um pouco...

quinta-feira, 29 de março de 2007

sujo como a neve



Ontem, no caminho de ida para obtencao do meu Social Security Number (SSN), um tipo de CPF da Gringolandia, Tom repentinamente parou o carro e comecou a apontar: "olha, olha!! neve!! neve!! a primeira neve que voce tah vendo!!"
Eu olhei para uma macaroca meio cinza, meio preta, um murundum de coisas no acostamento, um morrinho de algo que parecia meio fedido, e fiquei sem entender nada. Ue, neve nao era aquela coisinha linda, branquinha, imaculada, que cai do ceu e da nome a alvas princesas de contos de fada? Como eh que agora ele apontava aquela nojeira como neve??
Sai do carro, foi irresistivel. E meti o dedo naquele morrinho sujo e desconhecido. E qual foi a minha surpresa quando eu constatei que era gelo mesmo!! Imundo, fedorento, preto, disforme, mas gelo!!
Voltei com o meu indicador sujo da poeira da estrada acumulada no montinho de neve, mas com um sorriso no rosto. Tanto de surpresa quanto de satisfacao. Afinal, como boa carioca, eu nunca tinha visto neve na vida. Va lah que nao era bem o que eu esperava, mas quem se importa? Jah estamos na primavera e foi, digamos, um plus poder ver e sentir minha primeira neve.

notinhas

  • ha dois dias, resolvendo o problema "seguro" do carro, constatei que a historia "americano acha que brasileiro fala espanhol" nao eh uma lenda, mas pura realidade. A nossa (muito simpatica, devo dizer) atendente perguntou que lingua nos estavamos falando e de onde eu era. Foi indescritivel a expressao facial da senhora quando fizemos a revelacao: falavamos portugues e eu era do Brasil! Mas, como assim? Se fala portugues na america latina??? A capital brasileira nao eh Buenos Aires?? O mundo esta perdido mesmo...
  • depois do ocorrido da notinha passada, acho que descobri a minha missao de vida aqui na land of opportunities, divulgar a cultura brasileira, dando enfase especial ao fator "brasileiro fala portugues".
  • na noite desse mesmo dia, estivemos num simpatico mercadinho indiano (ou paquistanes, nao lembro ao certo - e que eles nao me escutem!) da vizinhanca pra comprar cartao telefonico pra ligar pro Rio. Lah resolvemos dar uma pesquisada nos quitutes e descobrimos uma prateleira com varias comidas prontas, do tipo abrir e esquentar. Tomzinho, em uma viagem anterior, jah tinha levado pra eu experimentar e, apesar do alto teor de pimentas, gostei muito. Enfim, resolvemos comprar um ou dois pratos. Foi nesse momento que percebemos que um dos donos do lugar estava muito perto nos observando. Quando finalmente escolhemos o que queriamos ele disse (em um ingles impossivel pra mim): "tah fora da validade, acho melhor voces nao levarem". Nos: "Ok! vamos ver outro prato". Ele: "tambem tah fora, todos estao fora". Verificamos e estava mesmo. Ele pegou tudo da nossa mao e, pasme, colocou tudo na prateleira de novo!! Mas, se tah fora da validade, se nao pode vender, por que continua na prateleira...? indiano ou lusitano...?
  • descobri que os EUA deve ser parente direto de Itu, sabe?, aquela cidade onde tudo eh enorme. Pois entao, leite aqui vende de quatro em quatro litros, os carros sao ou compridos ou altos, ou ainda, compridos e altos, shampoo eh de 500 ml em 500 ml, pasta de dente soh tubo tamanho familia, porcao para uma pessoa, em restaurante, da para 4 pessoas comerem! Eh por isso que as bundas crescem aqui, porque eh impossivel comer um chocolatinho. Soh se vende um senhor chocolate!!
  • Ontem eu conheci uma mulher de bigode. Vou repetir, ONTEM EU CONHECI UMA MULHER DE BIGODE. Mas nao era um bucinho nao. Nem um bigodinho de mulheres de origens lusitanas. Eu to falando de um bigode de verdade, de dar inveja a qualquer Ruy Barbosa. E devo dizer que senti um orgunlho verdadeiro por parte dessa mulher em ter esse bigode, coisa tao rara. A principio achei que fosse uma coisa meio desleixo dela. Mas depois percebi que sua sobrancelhas eram feitas e bem feitas, diga-se de passagem. Logo a deducao foi obvia: o bigode era completamente cultivado, com tempo, trabalho, paciencia e muito amor. Admiravel! Impensavel no Rio de Janeiro. Completamente aceitavel aqui. Et vive la difference!!

quarta-feira, 28 de março de 2007

Miami

Eis que depois de um monte de horas (sem dormir, diga-se de passagem) dentro de um aviao, chegamos nos EUA, em Miami. Mas, seria mesmo EUA...? Impressionante como se escuta de tudo, principalmente espanhol, nos corredores do absurdamente grande aeroporto internacional da cidade, menos o que eu mais esperava ouvir, ou seja, ingles. Entrei nos EUA sem ouvir ninguem falando ingles, o que me deu um sentimento meio de fraude, meio de que eu tava sendo enganada. Caraca, 8 horas dentro de um aviao, com um cobertozinho que ou cobria os ombros ou cobria os pes, com uma comida, digamos, blargh e nada de ingles?!?
Claro que to sendo um pouco exagerada e rabugenta. A oficial da imigracao (Carmen ou Dolores, nao me lembro bem) falava ingles. Com sotaque. Mas falava, ue. Eu tambem tenho sotaque. Um monte alias. Mas eu sou a imigrante, bolas! Achava que eu me sentiria um tanto quanto especial, afinal.
No fim das contas acho que Miami serve como um portal de transicao entre a latinidade e o anglicanismo. Eh um ponto onde voce vai, aos poucos, ouvindo uma lingua que nao eh a sua, mas que nao eh totalmente estranha. Mesmo que voce nao fale uma palavra de espanhol, sempre eh possivel um entendimento, uma conversa, um sorriso e isso eh reconfortante. Mesmo que um tanto decepcionante. Principalmente para mim, que tenho essa tendencia (totalmente latina) ao drama, a necessidade de sofrer, e achava que seria completamente discriminada e mal-querida. Ledo engano. Sou mais uma nesse mundao de imigrantes. E pessoas muito especiais.

terça-feira, 27 de março de 2007

burocracia

Entre as tarefas fundamentais da nossa ida para os EUA uma tarefa que nos dava medo era conseguir botar meu carro de novo na rua. Em 2003 comprei um lindo carro seminovo, um Kia, quatro portas, modelo "Rio", que ficou aqui com Alvin enquanto eu estava no Rio. Desde ano passado ficou parado, sem placas, na garagem, e Alvin nos informou que a bateria tava com problemas. Ontem pedimos um reboque, e hoje o cara do posto de gasolina ligou pra dizer que era so trocar a bateria, e dar um pequeno ajuste nos freios. Oba! Hoje conseguimos arranjar seguro etc. (primeira tarefa) e registrar o carro. Quer dizer, que agora temos mobilidade, e podemos ir de carro para Carolina do Norte (7 horas de estrada).
Amanha a gente vai pro escritorio do governo federal para pedir um Social Security Number (equivalente norteamericana do CPF) para Deborah. Depois vamos visitar colegas na College of New Jersey, onde eu trabalhei nos anos 2001-2004, passear um pouco em Filadelfia, e finalmente jantar com minha filha Emma e meu filho Merlin (comida Tex-Mex).

Chegamos

Chegamos bem na Gringolandia, sem atrasos, no aeroporto mais latino-americano do pais, Miami International. Quase nao tinha fila, e Deborah entregou o envelope lacrado dos documentos dela, uma mulher com sotaque espanhol (nome: Reyes) tirou impressoes digitais, e entramos nos EUA. Na sala com as bagagens tinha um funcionario que botou as cinco malas imensas num carrinho, uma mulher da Alfandega perguntou "voce morava fora dos EUA, e agora ta voltando?" Exatamente, respondi, e passamos sem problems ate o lugar para devolver as malas para American Airlines para elas continuarem ate Filadelfia. Eu agradeci o cara com o carrinho, ele fez cara de mau, e eu fiquei sabendo que ele tava esperando uma gorjeta, so que eu tava sem um tostao de dinheiro americano. Deborah ficou com as malas, eu fui prum caixa eletronico, mas mesmo assim o cara ficou de mau humor.....
fizemos cafe de manha num restaurante cubano no aeroporto, todo mundo falando espanhol, cafe otimo e barato, os funcionarios simpaticos....
e na ida para o portao do voo para Filadelfia, paramos para perguntar sobre o preco de Eternity....a vendedora era Carioca! Batemos um bom papo.
Mais duas horas de voo, e chegamos em Filadelfia, pegamos um combi (um van) para a casa do Alvin em Nova Jersey....
os outros passageiros: uma mulher super-simpatica, jamaicana, mas que mora em NJ, com sotaque igualzinho ao sotaque de Tia Dalma em Piratas do Caribe II; e um soldado voltando da terceira vez em Iraque, simpatico, mas calado. Coitado. Um texano de trinta anos, com seis filhos.