segunda-feira, 16 de abril de 2007

e a saga da carteira de motorista continua...

Na última sexta-feira, Tomzinho me tirou cedo da cama, mesmo depois do incidente "Música Eletrônica Às Altas Horas Da Madrugada", com o intuito de resolvermos o item "Carteira de Motorista". Como eu expliquei antes (vide post "sexta-feira santa e chata"), Tomzinho precisa fazer a transferência do carro para o departamento de trânsito da Carolina do Norte, com placas novas e tudo, além de precisar de uma nova licença de motorista. E a ordem é a seguinte: primeiro você precisa de uma carteira daqui pra depois poder licenciar o seu carro. O meu caso já é de uma simples primeira via de carteira de motorista, já que a nossa querida Carolina não aceita carteiras de habilitação internacional. Assim sendo, eu nem me dei ao trabalho de resolver a minha renovação no Detran, novas taxas, novos exames médicos, e tal. Mas, para minha surpresa total, enquanto que pra Tomzinho a habilitação é necessária pra resolver a questão licença e seguro do carro, eu só posso tirar a minha se eu tiver um carro licenciado e segurado em meu nome também... inteligentes esses americanos, não...?
Enfim, fomos a um lugar diferente dessa vez. Um departamento em uma cidade próxima (mas nem tanto) chamada Hillsborough. Andamos bem uns 30 minutos de carro para descobrir que repartição pública é repartição pública em qualquer lugar do mundo. Descobri, ainda, que você pode ficar muitas horas numa fila. E que, com a lei de Murphy imperando nesses casos, claro que você não vai conseguir resolver tudo o que precisa numa tacada só. Além do mais, para minha infelicidade como mulher prenhuda e aos 7 meses de gestação, americanos em geral cagam se vc está grávida. Não existe nenhuma preferência em nenhuma fila, seja de banco, de mercado ou de repartições públicas, e nenhum (mas nehum mesmo) americano tem a gentileza de se levantar e te dar o lugar pra sentar. Nunca. Nem olham pra tua cara. E muito menos pra tua barriga. Isso foi chato e cansativo de ver.
Mas, depois de algum tempo esperando, uma senha pra mim e outra pra Tomzinho, nossos números foram chamados. Quer dizer, o dele foi chamado. Eu entrei junto, como havíamos combinado, mas chegando lá o sr. Funcionário Público disse que não poderíamos ser atendidos ao mesmo tempo já que teríamos que fazer alguns testes. Ok, saí e esperei (em pé) pacientemente meu número ser chamado. O que aconteceu pouco tempo depois, mas por outra pessoa e em outro guichê. Ou seja, eu ia ser atendida completamente sozinha...
Olhei pro Tom com súplica nos olhos: "O que eu faço??", ele: "Se vira, vai lá!!". Eu fui. Me sentei com meu passaporte verdinho na frente de uma enorme-negona-norte-americana-de-filme e comecei a explicar que eu precisava peloamordedeus de uma carteira de motorista da Carolina do Norte, que eu tinha visto de permanente, que eu dirigia no Brasil já mas que, sabe como é, não aceitavam minha carteira de motorista no estado. Ela séria me perguntou: "Você mora aqui?" Eu feliz com o nosso dialogo, "moro, sou residente na Carolina do Norte. Eu tenho visto de imigrante, olha aqui, ó!" E mostrei o passaporte. Ela, ainda muito séria e meio desconfiada: "você é cidadã norte-americana?" Eu, mostrando meu passaporte de novo (será que ela não viu meu passaporte verdinho???), "nãoooo, eu sou brasileira, olha, b-r-a-s-i-l-e-i-r-a! Mas preciso de uma carteira de motorista, pois vivo aqui e, olha a minha barriga, tá vendo? eu preciso dirigir, não posso ficar andando por aí". Ela, muiiiito séria, me perguntou: "Tá tudo certo, mas preciso do papel #$%@^%#&^%@. Você tem ele aí? Aquele papel #$%@^%#&^%@ que a imigração deve ter te dado." Eu, "como? pode repetir? excuse me?" Ela, já meio impaciente, "o papel #$%@^%#&^%@, da imigração, você sabe." Eu já meio com medo, arrisquei: "não me deram nenhum papel assim na imigração... acho que no meu caso não precisava disso..." Ela, "um minutinho por favor" e levantou me deixando perdida e atônita. Era agora que eu seria levada pro quartinho, interrogada, torturada e deportada. Por um momento, quase me levantei e saí correndo, mas Tomzinho no guichê próximo sorria e me deu algum alento,desviando minha atenção. Foi aí que chegou um cara com cara de chefe, muito risonho, muito simpático, mas impassível. Cheguei a pensar que teria alguma chance com ele, mas foi categórico: "precisamos do papel #$%@^%#&^%@ ou do seu green card. Tem algum dos dois aí?"
Aí eu entreguei os pontos. Toda a minha satisfação em estar conseguindo entender e ser entendida foi por água abaixo e resolvi apelar desavergonhadamente: "será que vocês esperam um minutinho...? meu marido tá no guichê ao lado e ele deve saber o que é esse tal papel... posso falar com ele?" Recebi olhares de benevolência e compreensão, eles entendiam que eu não tinha capacidade e nem inteligência suficiente pra entender o caso. Mas, pra meu desespero e pânico, tampouco Tomzinho sabia do que se tratava e ficamos combinados com os Srs. Funcionários de que voltaria lá quando meu green card chegasse. Sabe-se lá deus quando.
Por fim perguntei à minha "calorosa" atendente: "Quando eu voltar, vou ter que fazer uma prova, certo?" Ela, "É, vai. Você precisa do livro de leis de trânsito, né?" E, me olhando séria, de cima a baixo, "temos em espanhol e inglês, qual você quer?" Eu, cheguei a pensar em mico e coisa e tal, mas a essa altura do campeonato minha vergonha já tinha ido pro ralo... "Será que pode ser um de cada...? é que, sabe como é, eu sou brasileira. Não falo nem inglês e nem espanhol. Falo na verdade português!!" Essa última parte foi dita com um misto de constrangimento e orgulho. O que arrancou, pela primeira vez, um enorme sorriso da minha atendente: "Claro! E porque não?" E me deu dois manuais. E me fez ver que assumir minha brasileirice é, finalmente, o melhor caminho. Espero que no fim dos manuais eu esteja apta a tirar minha carteira e falar um espanhol e um inglês um tantinho melhor, algo que me faça entender que diabo de papel #$%@^%#&^%@ é esse afinal.

Um comentário:

Giselle Rocha disse...

*deixando comentário*

pra vc vê... reclamamos das coisas como andam aqui, mas nem em país de primeiro mundo tudo acontece como gostaríamos...
mas dá p ir se virando né, déh?!
sorte p vc aí!
beijão